Há 26 anos pesquisadores do Laboratório de Ecologia das Aves, do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) monitoram a população de aves nas unidades de conservação do Paraná de uma forma diferente: através do canto. Já que a identificação visual é difícil na floresta, o laboratório decidiu deixar os binóculos de lado e aguçar os ouvidos para identificá-las através de suas vocalizações.
O estudo de longo prazo permite comparar a ocorrência e densidade de espécies de aves em áreas protegidas específicas, como o Parque Nacional do Iguaçu (PR), os parques estaduais Mata dos Godoy (PR), de Vila Velha (PR), de Ibiporã (PR) e do Rio Guarani (PR); além da Reserva Biológica das Perobas (PR) e a Floresta Nacional do Irati (PR). Os resultados mais recentes apontam para uma melhora na biodiversidade nos locais monitorados. Os pesquisadores fazem a ressalva, entretanto, de que em áreas fragmentadas de floresta, como é o caso da maior parte dos remanescentes de Mata Atlântica, a tendência é a redução destas populações.
Ao todo são monitorados 60 fragmentos florestais no norte do Paraná, 10 áreas de restauração, além das grandes reservas. Nestas, a análise considera 350 espécies de aves existentes – metade do total de aves com registro de ocorrência no estado. O monitoramento, entretanto, vai além da avifauna e diz respeito à conservação – ou não – do ambiente como um todo, porque através dos dados populacionais obtidos, os pesquisadores conseguem medir a degradação da área.
Algumas espécies são consideradas chave, pois são indicadores biológicos de desequilíbrios ambientais. Ou seja, são as primeiras a desaparecerem diante da destruição do seu habitat. Esse é o caso do macuco (Tinamus solitarius), da borralhara (Mackenziaena severa), da jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus) e da gralha azul (Cyanocorax caeruleus), ave símbolo do Paraná.
Para uma pesquisa tão longa, ter uma metodologia padrão é essencial para garantir o acompanhamento preciso dos resultados. De acordo com o professor Luiz dos Anjos, que está à frente do estudo, o levantamento é realizado em um tempo padrão para identificação das espécies presentes e o local precisa ser sempre o mesmo, devidamente localizado por GPS.
No Parque Nacional do Iguaçu, esse monitoramento ocorre entre outubro e novembro, sempre na mesma trilha, de aproximadamente 5 quilômetros, e entre 4h30 e 9h30, horário em que as aves estão mais ativas. O professor conta que, desde o início da coleta no parque, a população de aves se manteve estável, um bom sinal de que a área tem cumprido seu papel como unidade de conservação. Os dados do monitoramento encontraram cerca de 80 espécies distintas por quilômetro, uma pequena amostra do total de aves e da rica biodiversidade do parque.
A pesquisa de ornitologia é patrocinada pela Fundação Boticário e integra o projeto Diversidade e Conservação de Aves na Porção Sul da Mata Atlântica, que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 1995.