O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), ou PARNASO, é o sexto parque nacional mais visitado do país: em 2016, foram mais de 160 mil visitantes. Um dos seus destaques são as travessias, em especial a Petrópolis – Teresópolis, um percurso clássico entre os montanhistas que chega a receber aproximadamente 200 usuários por dia na alta temporada. Atentos ao grande fluxo de visitantes, no final de junho uma equipe composta por dois analistas ambientais da unidade, um monitor ambiental da Concessionária Rio Teresópolis (CRT) e o engenheiro sanitarista e ambiental do Instituto Çarakura, Richard Smith; realizaram uma vistoria nas instalações de saneamento do parque.
Na análise, foram investigados abrigos já existentes na travessia e pontos de parada onde os montanhistas costumam coletar água, para beber, preparar pequenas refeições e até mesmo fazer suas necessidades .
O diagnóstico preliminar da vistoria demonstrou três questões principais. A primeira é que os banheiros secos disponíveis nos abrigos precisam de melhorias técnicas significativas para operarem com eficiência sanitária. A segunda, que os sistemas de tratamento dos efluentes gerados nos abrigos (água dos chuveiros, das pias e dos vasos sanitários) estão regulares, mas podem melhorar, principalmente nos períodos de pico de visitantes. O terceiro e último ponto destacado pelo engenheiro sanitarista é que “alguns locais de parada precisam contar com equipamento de saneamento (banheiro e tratamento), pois alguns pontos de coleta de água na travessia apresentam indícios de contaminação fecal, tendo sido identificadas fezes e papel higiênico nas proximidades dos mananciais”.
Esta vistoria marcou o começo de uma iniciativa do Instituto Çarakura em aprimorar o saneamento ecológico realizado em unidades de conservação . O grupo irá promover ainda diálogos com professores e pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, para levantar possíveis soluções tecnológicas para questão sanitária em locais remotos.
Richard, que é especialista em saneamento em unidades de conservação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca que “com essas soluções levantadas serão realizadas reuniões e outras vistorias com a equipe gestora do PARNASO, buscando conciliar a segurança sanitária da trilha com as capacidades operacionais da unidade de conservação e levantando possíveis apoiadores e doadores para o projeto”. O gestor do parque, Leandro Goulart ressalta ainda que “as perspectivas da unidade são de manter e ampliar a visitação em outras trilhas do PARNASO como ferramenta de sensibilização e de engajamento para conservação da natureza, mas preservando os recursos naturais e toda a biodiversidade que o parque protege”.
Você sabe o que é um banheiro seco?
A disposição inadequada de excretas humanas em áreas protegidas gera um risco potencial de contaminar os corpos hídricos. Para evitar essa contaminação do solo e da água, uma solução é o banheiro seco. Essa é uma tecnologia de saneamento que realiza o tratamento das fezes e da urina, sem utilizar água. Na Ásia e em alguns países da Europa, como a Suécia, a tecnologia já é bastante difundida e pesquisada, mas no Brasil ela ainda se restringe a poucas pesquisas, centros de permacultura e alguns parques nacionais. Mesmo onde existe, ele costuma apresentar problemas de projeto, construção e operação.
Existem basicamente dois tipos de banheiro seco e dois tipos de tratamento. Os dois tipos são: com vaso segregador e sem. O vaso segregador é um vaso especial com uma divisória que separa as fezes da urina. Os dois tratamentos (para as fezes) são: compostagem, que utiliza serragem como aditivo sobre as fezes; e secagem ou elevação do pH, que utiliza como aditivo cinzas mais calcário agrícola e uma pequena quantidade de ureia (1%), devido ao seu efeito bactericida. O tratamento da urina (pura) é realizado pelo simples armazenamento em recipiente hermeticamente fechado durante 6 meses.
Os banheiros secos são ainda mais essenciais em travessias, onde os pontos de pernoite dos caminhantes costumam ser remotos e não há condições de instalar um sanitário convencional. Os Parques Nacionais das Chapadas dos Veadeiros (GO) e dos Guimarães (MT) são dois exemplos de unidades onde há uso dessa estratégia de saneamento nos abrigos. Porém de acordo com Richard, mais do que construir a estrutura, para garantir a efetividade e sustentabilidade dos banheiros secos é preciso um trabalho de manutenção e conscientização do visitante sobre como usá-lo da forma adequada.