A importância do caminho: sinalização em unidades de conservação é tema de oficina


Participantes fazem a sinalização da Travessia das Sete Quedas. Foto: Duda Menegassi
Participantes fazem a sinalização da Travessia das Sete Quedas. Foto: Duda Menegassi


A visitação em unidades de conservação (UCs) acontece, principalmente, na trilha: um caminho em meio à natureza que leva o turista ao atrativo, ou que é o próprio atrativo. Estabelecer uma trilha, entretanto, envolve mais trabalho que simplesmente abrir a mata com um facão e uma enxada. É preciso considerar a sustentabilidade do percurso através de fatores como traçado, drenagem, declividade, manejo e sinalização. Com isso em mente, a Coordenação-Geral de Uso Público e Negócios (CGEUP) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) promoveu na última semana uma oficina de planejamento de trilhas.

Durante cinco dias, gestores e monitores ambientais de unidades de conservação (UCs), além de representantes de ONGs, voluntários e condutores de turismo, aprenderam na teoria e na prática o que devem considerar na hora de implementar uma trilha. A escolha dos participantes levou em conta exatamente as UCs que estão no processo de criação de trilhas de longo curso, como o Parque Nacional de Aparados da Serra (RS) e a Reserva Extrativista de Chico Mendes (AC).

A equipe do recém-ampliado Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO)  foi a anfitriã do evento, que contou com a presença do diretor do Departamento de Áreas Protegidas da Secretaria de Biodiversidade, Warwick Manfrinato.

Pedro Menezes dá o exemplo da placa utilizada para sinalização na Trilha Transcarioca. Foto: Duda Menegassi
Pedro Menezes dá o exemplo da placa utilizada para sinalização na Trilha Transcarioca. Foto: Duda Menegassi


O curso faz parte de uma trilogia de capacitação organizada pela CGEUP para promover o uso público nas UCs dentro de um padrão de qualidade e sustentabilidade. O
Guia Prático de Sinalização de Trilhas (disponível online), escrito pelo atual diretor da CGEUP, Pedro da Cunha e Menezes, foi uma das referências da oficina. No evento, Pedro reforçou a importância de sinalizar como um instrumento que dá segurança ao usuário e à unidade, uma vez que “com a sinalização você consegue manejar e minimizar o impacto causado, inevitavelmente, pelo visitante. Desviar ele de uma área com vegetação mais sensível, por exemplo, ou evitar uma erosão maior no percurso”.

Depois de 3 dias de aula teórica, o grupo de aproximadamente 40 pessoas foi para uma vivência prática na Travessia das Sete Quedas, trilha de longo curso do parque que soma 23 quilômetros e um pernoite. A atividade prática, além de colocar todos com a mão na massa – e na tinta – para pintura das setas, provocou todos a pensarem como deve ser feita a sinalização. Desde o posicionamento até o adensamento – ou não – dela ao longo do caminho, de acordo com a intenção que se propõe àquele percurso e seu respectivo público visitante. Aliás, a travessia, conservada e sinalizada, abre a partir de hoje (06/06) ao público geral, mediante pré-agendamento.

A caminhada também foi uma oportunidade para gestores que nunca haviam feito uma trilha de longa duração viverem na pele a experiência do usuário, entender suas necessidades e possíveis demandas. Gestora do Parque Nacional do Viruá (RR) , Beatriz Lisboa resumiu: “Estou aqui como visitante também, e isso é muito importante porque me dá outra visão e muito mais segurança para implementar a sinalização e facilitar o turismo no Viruá”.

Um dos objetivos do curso, para além da capacitação, foi provar que essa iniciativa de abrir as portas de uma unidade de conservação é mais simples do que parece. Basta vontade e criatividade para driblar a falta de recursos financeiros e humanos. Com uma lata de tinta já é possível fazer muita coisa, assim como a mão-de-obra voluntária pode ser uma excelente solução para falta de recursos humanos.

Grupo dos participantes da oficina segue pela trilha em meio ao Cerrado. Foto: Duda Menegassi
Grupo dos participantes da oficina segue pela trilha em meio ao Cerrado. Foto: Duda Menegassi


A sensação da gratidão pela oportunidade de aprendizado e vivência era geral. O gestor do
Parque Estadual de Serra Nova (MG) , Plínio Santos, que está nos preparativos de uma trilha de longo curso na unidade, resumiu o sentimento de muitos: “o curso vai ser o farol para eu implementar a trilha no parque, com certeza me economizou alguns erros”.

De acordo com a equipe da CGEUP, depois desse primeiro momento de introdução aos conceitos gerais de planejamento, o próximo curso terá um foco maior no manejo de trilhas e a experiência prática do uso de ferramentas como o clinômetro, que permite verificar a declividade do percurso. O terceiro momento da sequência didática seria dedicado aos profissionais que atuam com geoprocessamento e imagens de satélite para auxiliar a escolha do melhor traçado.

Para além das oficinas, a coordenação se pôs à disposição dos gestores interessados em implementar trilhas, atrativos e consolidar a visitação nas suas UCs. E convocou todos ao protagonismo para manter hasteada a bandeira do uso público. Como concluiu o voluntário da Trilha Transcarioca, Ivan Amaral, “quando você abre para visitação, você abre para visibilidade”. E é com esses olhares que as UCs ganharão o mais poderoso aliado para conservação: a sociedade.

Parte do grupo no final da Travessia das Sete Quedas. foto: Duda Menegassi
Parte do grupo no final da Travessia das Sete Quedas. foto: Duda Menegassi

 

 

 

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