((o))eco publicou semana passada (24/2) notícia sobre um estudo pioneiro acerca de áreas protegidas terrestres espalhadas pelo globo. O resultado estima que elas recebem 8 bilhões de visitas por ano e geram 600 bilhões de dólares em receitas derivadas de ingressos, gastos com viagem, hospedagem, alimentação, etc. Do outro lado, o trabalho calcula que auferem menos do que 10 bilhões de dólares em gastos para mantê-las. A relação é de 60 dólares de receita para cada dólar gasto.
Vale a pena detalhar esses números. A estimativa é que de 8 bilhões no total, 3,8 bi de visitas ocorrem na Europa e 3,3 bi na América do Norte (Canadá, Estados Unidos e México). Isso equivale a 89% de todas as visitas. Sobram 900 milhões estimadas no resto do mundo, ou 11% do total.
Os autores consideraram os resultados conservadores, pois estudos locais mostraram uma visitação a áreas protegidas de 3,5 bilhões só nos Estados Unidos, 1 bilhão de visitas a parques nacionais na China, e, na Inglaterra, entre 3,2 e 3,9 bilhões de visitas a ecossistemas (que incluem áreas não protegidas). Pela metodologia do trabalho, a margem de erro da estimativa de 8 bilhões de visitas no mundo vai de um mínimo de 5,4 bilhões a um máximo de 18,5 bilhões de visitas/ano.
Entre as métricas que os autores usam está o número de visitas a áreas protegidas por pessoa em seus dias livres (sem trabalho). Os norte-americanos saem na frente. Em média, para cada 100 dias livres, em 10 eles visitam áreas protegidas, seguidos dos europeus com 5, e aí a coisa despenca para 0,3 na Ásia/Australásia, América Latina e África.
Sovinas
Os autores partiram de uma amostra com dados sobre visitação de 556 áreas protegidas espalhadas por 51 países. A partir dessa amostra, construíram equações (modelos) para estimar a visitação em cerca de 94 mil áreas protegidas terrestres espalhadas pelo mundo. Não entraram áreas marítimas, o Ártico e, por confiabilidade de dados, 40 mil pequenas áreas protegidas terrestres.
Pelos dados do Banco Mundial, o percentual de áreas protegidas terrestres sobre o total de terras no mundo aumentou de 8,5%, em 1990, para 14,3%, em 2012.
Segundo os autores, o trabalho é pioneiro por alcançar uma estimativa global. Isso só foi possível graças às Metas de Aichi, que pressionam os governos a integrar o valor da biodiversidade nas contas nacionais e, assim, levaram a uma melhoria da qualidade das informações.
Na média de visitas por área protegida (AP), de novo, a América do Norte está à frente com 350 mil visitas por AP; seguidos da Ásia/Australásia, com 45 mil visitas; Europa, com 21 mil visitas; e América Latina e África, respectivamente com 4 mil e 2,8 mil visitas.
As variáveis do modelo incluem tamanho da população, o quão remota é a área protegida, atrações naturais e renda per capita. Os resultados são coerentes com a intuição e mostram que quanto maior a população da região maior o número de visitas, que também aumentam com a renda per capita.
Duas reflexões óbvias depois de ler o estudo são: o mundo ainda gasta um valor que é troco (10 bi de dólares) para manter suas áreas protegidas. Para comparar, isso está no patamar da discussão dos últimos dias nos jornais sobre a receita extra com o encerramento da desoneração de folha de pagamentos no Brasil. Em segundo, os países em desenvolvimento (quer dizer, nós) têm muito que melhorar. Apesar de terem a maior parte da população global (cerca de 82% do total), realizam apenas 10% das visitas em áreas protegidas.
Para dar uma ordem de grandeza referente ao Brasil, tivemos em 2013, de acordo com o ICMBio, 6 milhões de visitas a parques nacionais brasileiros, que equivalem a 2% das 280 milhões de visitas aos parques nacionais dos Estados Unidos .