Fotografia na selva de pedra


Coruja-buraqueira (Athene cunicularia). Foto: Moisés Lima
Coruja-buraqueira (Athene cunicularia). Foto: Moisés Lima

 

Hoje em dia, é fácil achar uma criança que não reconhece um grilo, ou que pensa que o leite vêm da geladeira porque nunca viu uma vaquinha. Infelizmente, essa é realidade do nosso estilo de vida urbano. Ele tem nos distanciado dos animais e plantas que dividem o mesmo planeta conosco. Saiba, porém, que eles podem ser encontrados mais perto que imagina.

Muitos seres compartilham estas “selvas de pedra” que chamamos cidades. Aves, insetos, mamíferos e tantos outros podem encontrar nos grandes centros urbanos abrigo, alimento e recursos para sobreviver e reproduzir.

Um olhar atento pode mudar a maneira que você vê as grandes cidades. Faça um teste. Observe a quantidade de espécies diferentes de aves que encontrará no caminho da escola ou do trabalho. Você se surpreenderá!

Tucanuçu (Ramphastos toco). Foto: Moisés Lima
Tucanuçu (Ramphastos toco). Foto: Moisés Lima
Quero-quero (Vanellus chilensis) ao lado da rodovia MG-10. Foto: Moisés Lima
Quero-quero (Vanellus chilensis) ao lado da rodovia MG-10. Foto: Moisés Lima

 

Animais urbanos e onde habitam

Procure em lugares próximos de áreas verdes como parques, praças e lagoas. Ou em áreas protegidas dentro de sua cidade. Quanto mais preservadas de alterações humanas as florestas e áreas verddes estiverem, maior é a diversidade de animais que poderemos encontrar. Em qualquer caso, para fotografar, importante é planejar, preparar e estar atento aos detalhes: uma bateria de câmera esquecida, por exemplo, pode comprometer todo o trabalho.

Capivara (hydrochaeris hydrochaeris) se alimentando. Foto: Moisés Lima
Capivara (hydrochaeris hydrochaeris) se alimentando. Foto: Moisés Lima

 

Para quem vive na cidade, fotografar em parques próximos de casa traz vantagens. É possível  carregar uma quantidade menor de equipamento, ajudando bastante nas caminhadas dentro das matas. Outro ponto interessante é a facilidade de voltar várias vezes a esses mesmos parque. Ao conhecer cada cantinho dessas áreas também aumentam as chances de se ter ótimos registros. Use as cidades para treinar.

Um encontro noturno

Florestas urbanas servem como refúgio de animais que, às vezes, podem surpreender com encontros raros como aconteceu comigo na segunda maior área verde de Belo Horizonte, Parque Estadual Serra Verde (MG), onde tive oportunidade de fazer um dos primeiros registros da coruja Mocho-diabo (Asio stygius). Saí cedo para caminhar no Parque Estadual, com intenção de achar um fungo (isso mesmo!) Estava atrás de um cogumelo muito bonito que aparece na unidade de conservação, conhecido como Véu-de-noiva. Ele surge durante a noite e pela manhã já começa a se desfazer.

Um dos primeiros registros do Mocho-diabo (Asio stygius) em Belo Horizonte. Foto: Moisés Lima
Um dos primeiros registros do Mocho-diabo (Asio stygius) em Belo Horizonte. Foto: Moisés Lima

 

Enquanto caminhava na mata, ouvi várias aves em comportamento de alerta.  No alto da árvore , vi as corujas. Eu não poderia perder a oportunidade de acompanhar esses bichos Incríveis. Elas que permaneceram lá por uma semana. Biólogo que sou, retornei dia após dia para aprender sobre o comportamento, os hábitos de vida e até mesmo hábitos alimentares. Estas corujas regurgitam  as partes das presas que não são digeridas, como, por exemplo, os ossos e pêlos – a “pelota”. E isso me possibilitou observar quais foram suas principais presas.

 

A minha história é apenas uma das muitas que reforçam a importância destes fragmentos florestais dentro das cidades. E de como um pouco de atenção pode revelar nestes locais, a natureza da qual nos sentimos, por vezes, tão separados.

 

 

 

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