Com a palavra: Maurício Muniz, gestor da Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim


Maurício Muniz, gestor da Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim. Foto: Daniele Bragança
Maurício Muniz, gestor da Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim. Foto: Daniele Bragança

A história da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim (RJ) é de resistência. Até os anos 80, os manguezais da Baía de Guanabara se encontravam em grave estado de degradação. O ecossistema de mangues sofria com o desmatamento para abastecer os fornos das indústrias de tijolos, telhados e cerâmica no seu entorno. Em 1984, após um longo processo de luta, o governo foi convencido a proteger a última porção preservada de manguezal da região, até então ameaçada.

A simples delimitação da unidade teve como impacto imediato o fim do desmatamento no mangue. A partir daí, a gestão da APA começou a replantar o manguezal perdido, um trabalho de recuperação do ecossistema que dura até hoje.

“Temos, em curso, a maior iniciativa de recuperação de manguezais do Brasil. São mais de 100 hectares de recuperação, de plantio. Cessamos a extração da madeira de mangue. Hoje, temos zero desmatamento de mangue dentro da unidade. Isso por si só, promoveu a recuperação do manguezal”, afirma o biólogo Maurício Muniz, gestor da APA de Guapi-Mirim há oito anos.

Localizada entre os municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo, no Rio de Janeiro, a unidade de conservação tem aproximadamente 14 mil hectares e funciona de forma integrada com a Estação Ecológica (ESEC) da Guanabara.

Confira abaixo a entrevista que o Wikiparques fez com Maurício Muniz:

Wikiparques: Poderia fazer um breve histórico da APA Guapi-Mirim?

Maurício Muniz: A APA foi criada no final da década de 70, a partir de um movimento de pesquisadores, cientistas e de ambientalistas que estavam preocupados com a degradação da Baía de Guanabara, em especial, das áreas de manguezais que ocorrem no entorno. Foi feito um estudo e viram que a última porção preservada estava em processo de degradação. Primeiro, veio o desmatamento do mangue. Depois, veio o aterro. Por fim, a conversão do mangue em áreas urbanas. Os pesquisadores perceberam que essa região estava seguindo o mesmo caminho. A floresta de mangue, naquela época, estava sendo muito extraída. A madeira do mangue era utilizada para a construção civil. E se percebeu que alguma coisa tinha que ser feita. Então, propuseram a criação da unidade de conservação. E assim, ela foi criada em 1984.

Colhereiros (Platalea ajaja), aves que podem ser encontradas na APA Guapi- Mirim.
Colhereiros (Platalea ajaja), aves que podem ser encontradas na APA Guapi- Mirim.

No seu tempo como gestor da APA Guapi-Mirim, o que encara como desafios para a preservação da área? E quais foram os avanços?

Os nossos desafios são os mesmos da Baía de Guanabara: saneamento básico, o lixo e a pressão da população do entorno.

Além disso, temos a necessidade de recuperar as bacias hidrográficas desses rios. Esse desafio não é só nosso, é do Brasil inteiro. A água que drena aqui, a gente poderá tê-la em melhor qualidade, diminuindo a quantidade de assoreamento dos rios. Recuperar as bacias hidrográficas e sanear os municípios do entorno. Eles (os desafios) extrapolam muito as competências do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Nós atuamos cobrando, fiscalizando junto aos municípios. No nível de cooperação técnica também, para desenvolver os melhores modelos para que se implantem essas ações. E participamos de diversos fóruns: Comitê de Bacia, Comitê da Baía da Guanabara. Temos o nosso Conselho Gestor, onde todas as secretarias municipais participam. Levamos esse debate da Baía de Guanabara, a recuperação das bacias hidrográficas para esses locais e mostramos a importância disso para a conservação das nossas unidades.

Em relação aos avanços, a gente pode falar da recuperação dos manguezais. Temos, em curso, a maior iniciativa de recuperação de manguezais do Brasil. São mais de 100 hectares de recuperação, de plantio. Cessamos a extração da madeira de mangue. Hoje, temos zero desmatamento de mangue dentro da unidade. Isso, por si só, promoveu a recuperação do manguezal. Isso se reverte na manutenção da biodiversidade daqui. Asseguramos a manutenção de aproximadamente 240 espécies de aves, mais de 140 peixes, 40 espécies de mamíferos, 40 de répteis e anfíbios. A biodiversidade da Baía de Guanabara está aqui, por isso, chamamos de “Arca de Noé” da Biodiversidade.

A equipe do Wikiparques agradece a entrevista, Maurício! E você, Caro Leitor, continue atento ao Blog e ao Facebook do WikiParques para novidades e futuras entrevistas com os gestores das nossas áreas protegidas.

 

 

 

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