Estudo em regiões tropicais revela grande variação na eficácia de áreas protegidas


Por Bill Laurance*

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Áreas protegidas, como parques nacionais e sítios do Patrimônio Mundial são provavelmente nossa melhor aposta para a conservação da natureza no longo prazo. Elas não são as únicas opções disponíveis, mas certamente são o foco dos esforços globais de conservação.

Áreas Protegidas protegem a Natureza?

Diante desta questão, precisamos saber o quão bem áreas protegidas funcionam.

Elas fazem o que deveriam — isto é, agir como ‘arcas’ para a biodiversidade e processos ecológicos naturais — além de abrigar povos indígenas, apoiar o ecoturismo, e proporcionar benefícios ambientais como água limpa, o armazenamento de carbono e mitigação de inundações?

Esta é uma pergunta muito grande e importante. Um estudo particularmente impressionante foi publicado recentemente por Ben Spracklen e seus colegas. Seu objetivo: comparar a eficácia em deter o desmatamento entre as unidades de conservação localizadas em florestas úmidas ao longo das regiões tropicais e subtropicais.

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Parar o desmatamento é, obviamente, uma das principais funções que queremos de nossas áreas protegidas. E, em muitos lugares, esta é uma tarefa difícil porque as regiões tropicais estão sob constante ataque de uma série de ameaças.

Nas últimas décadas um dos padrões mais marcantes nos trópicos tem sido o desmatamento em grande escala, com muitas áreas protegidas sendo rapidamente isoladas de suas florestas circundantes — tornando-as efetivamente fragmentos de habitats.

E esta é uma ideia assustadora porque todos sabemos que a fragmentação causa muitos problemas para a biodiversidade tropical e ecossistemas.

Principais conclusões

Neste contexto, o estudo de Spracken e cia. é importantíssimo. Os autores avaliaram o desmatamento dentro e imediatamente fora de quase 3.400 áreas protegidas em 56 países, contrastando as situações em 2000 e 2012. Algumas de suas principais conclusões:

1. A maioria das áreas protegidas estão sob forte pressão. Ao todo, 73% delas apresentam vasto desmatamento ocorrido imediatamente fora da área conservada.

2. Existe uma grande variação na eficácia de áreas protegidas, tanto entre diferentes continentes quanto entre diferentes nações.

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3. As áreas protegidas estão em melhor situação nas nações mais afluentes (com maior PIB per capita) do que nos países mais pobres.

4. Unidades de conservação também tendem a sofrer  mais em países que têm populações rurais densas, embora esta tendência seja mais fraca que o efeito “riqueza”.

5. Em uma escala continental, as áreas protegidas estão se saem pior na Ásia, com sucesso intermediário na América do Sul e trópicos africanos. Unidades na Australásia (Austrália e Nova Guiné) tem melhor performance no geral.

6. Em escalas regionais, as áreas protegidas da Sudeste Asiático, África Ocidental e América Central têm o desempenho mais fraco.

7. Apesar de fortes diferenças entre continentes e regiões, ainda há muita variação no nível nacional. Por exemplo, na Ásia, as áreas protegidas se saem melhor na Tailândia e Laos do que em outros lugares na região. Na América Central, as unidades de Costa Rica e Belize se destacam dos outros países.

Para as áreas protegidas, o verde é bom, ao passo que laranja e vermelho são ruins (de Spracklen et al. 2015, PLoS One).
Para as áreas protegidas, o verde é bom, ao passo que laranja e vermelho são ruins (de Spracklen et al. 2015, PLoS One).

8. Nada surpreendente, países com grandes e remotas fronteiras, tais como aqueles na Amazônica e na Bacia do Congo, tendem a uma perda de floresta relativamente baixa dentro de suas áreas protegidas.

9. Felizmente, havia pouca evidência de que as áreas protegidas são simplesmente deslocando o desmatamento – empurrando-o em outro lugar fora dos seus limites. Isso é uma boa notícia, pois sugere que as áreas protegidas ajudam a reduzir as taxas de desmatamento.

10. As áreas protegidas com inclinações superiores ou elevações mais altas do que os seus arredores têm menos degradação do que aqueles que têm a topografia menos desafiadora.

11. Por último, as unidades com intenso desmatamento ao seu redor também tendem a ter mais desmatamento dentro delas.

Os autores não discutiram este último ponto no seu estudo, mas, quando questionados, confirmaram que este foi o caso. Isto é consistente com a conclusão central de um estudo de 2012 sobre reservas florestais tropicais na revista Nature  conduzido pelo diretor da ALERT, Bill Laurance. O ponto chave: não podemos ignorar o que está acontecendo fora das áreas protegidas, porque estes mesmos efeitos tendem a invadir a própria área, com graves impactos sobre a biodiversidade.

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Recados Importantes

Por todo o esforço, o estudo de Spracklen e cia. é um dos mais importantes já publicados sobre áreas protegidas. De um escopo, é sem dúvida um tour de force científico, com profundas implicações.

Ele nos diz que, em geral, nossas áreas protegidas funcionam – até certo ponto. Elas reduzem ou detém o desmatamento, e não apenas o deslocam para outro lugar.

Mas ainda há um enorme espaço para melhorias.

Áreas protegidas em muitas nações – em especial no Sudeste da Ásia, na África Ocidental e na América Central – não estão fazendo o suficiente.

Precisamos lutar para salvaguardar as áreas protegidas destes lugares, porque guardam alguns dos mais biologicamente ricos – e mais ameaçados – territórios do planeta.

 

*Matéria publicada originalmente no site ALERT em 09 de fevereiro de 2016
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