Na próxima terça-feira (15), será lançado em São Paulo o livro ‘Aprendizagem Social e Áreas de Proteção Ambiental’ organizado pelo professor Pedro Roberto Jacobi. A obra de 154 páginas da editora Annablume, em colaboração com a USP, aborda como o conhecimento das instituições acadêmicas pode contribuir para órgãos de gestão ambiental, pela aplicação de conhecimento científico nas questões de gestão de unidades de conservação.
O lançamento vai acontecer à partir das 19h00 no Bar Canto Madalena, Rua Medeiros de Albuquerque, 471, São Paulo.
Leia abaixo a uma breve entrevista com o autor:
WikiParques: Qual proposta desse trabalho? De onde surgiu a ideia do livro?
Este livro é o resultado de um projeto de pesquisa que teve como objetivo principal contribuir para melhorar a compreensão sobre as formas de geração, transferência e apropriação de conhecimento das instituições acadêmicas as diferentes instâncias e órgãos de gestão ambiental, enquanto articulação essencial para a Governança Ambiental. A pesquisa foi realizada com apoio do CNPq , que foi fundamental para a realização da pesquisa e para a produção do livro.
O tema de pesquisa que uniu os pesquisadores foi a articulação entre a gestão do conhecimento, os processos de aprendizagem através de diversas manifestações, no sentido de analisar as interações em curso entre produção científica e governança ambiental, em especial a questão das Áreas de Proteção Ambiental como seu elemento articulador e integrador.
A articulação de pesquisadores em torno deste projeto é fruto da percepção que o grupo aqui constituído tem sobre a necessidade de um olhar complexo, interdisciplinar e transversal sobre os conflitos e as interfaces da gestão ambiental com as dimensões territorial, institucional e sociocultural.
Quanto tempo levou para reunir todas as informações? Como foi essa vivência?
A pesquisa foi realizada entre 2009 e 2013. O escopo do projeto se insere na temática da Governança Ambiental, e enfatizou a análise e monitoramento das práticas sociais em quatro Áreas de Proteção Ambiental (APA) no Estado de São Paulo: APA Itupararanga, APA Tietê, APA Marinha do Litoral Norte e APA Marinha do Litoral Centro.
De maneira geral, buscou-se entender os fatores que favorecem ou dificultam a APAs em cada estudo de caso, com foco no papel das universidades e centros de ensino e pesquisa na transferência e apropriação do conhecimento pertinente à gestão da unidade.
Para atingir o objetivo do projeto, as informações de cada APA foram coletadas por meio de abordagens distintas que contaram com pesquisa documental, observação participante e aplicação de questionários aos conselheiros.
Por meio da combinação dessas três abordagens, analisaram-se dois biênios de atuação dos conselhos, com foco nos anos de 2009 a 2013, de acordo com as informações disponíveis em atas e registros de reuniões de cada unidade, que foram disponibilizadas aos pesquisadores. Estas analises foram complementadas com reuniões entre a equipe de pesquisa e os gestores das, além de intervenções pontuais com apresentação das ferramentas promotoras da gestão participativa em alguns conselhos.
Qual foi a sua motivação para fazer parte desse trabalho?
Eu coordenei a pesquisa e convidei colegas docentes e seus orientandos para participar da pesquisa que elaborei com alguns dos professores que participaram comigo desde o inicio do processo.
A base conceitual da proposta tem como premissa a necessidade de articulação entre a elaboração de diagnósticos e a capacitação para a gestão compartilhada, através de ferramentas que facilitam a Aprendizagem Social (Social Learning-SL), e que podem contribuir no processo de construção de tomada de decisão compartilhada, interdisciplinar e intersetorial. A pesquisa alicerça-se no desenvolvimento de metodologias inovadoras, na abordagem dos conflitos em torno da gestão e monitoramento da água e do território, na qual o referencial e as abordagens foram centradas no conceito de Aprendizagem Social.
O desafio é criar capacidade crescente nas instâncias participativas nos Conselhos Gestores, sejam estes de organizações municipais, territoriais/regionais e de bacias hidrográficas para executarem tarefas rotineiras e de planejamento relacionadas com a governança ambiental. Dentre os elementos que podemos destacar nas diferentes escalas de governança (local, regional e de bacia) estáo contexto, o processo e os resultados, que são frutos das diferentes abordagens,que condicionam as ações, bem o como as diferentes perspectivas de intervenção dos atores envolvidos.
Como a realidade não é algo controlável somente por um ator, uma pluralidade de atores participam do jogo social para alcançarem seus objetivos, e o fazem de acordo com os recursos que controlam e dos quais dispõem, e lançam mão de estratégias de cooperação ou conflito, a partir de diferentes estratégias, argumentos, atitudes e recursos.
Existe a necessidade de reconhecer que a realidade complexa e os desafios globais demandam um repensar, uma redefinir e um reaprender, e nesse sentido o papel da Universidade e dos seus pesquisadores através de formas colaborativas de atuação pode promover novas ideias, que pautadas pela concepção de aprendizagem social avancem em direção a mudanças na forma de se abordar o meio ambiente.
O processo de aprendizagem é essencial para transformar a forma de se pensar a realidade que nos cerca, e para tanto um dos maiores desafios é de incrementar a resiliência através do papel exercido por aquele que aprende, pelo objeto que se ensina, e pelas potenciais mudanças no plano físico, biológico, social, cultural e econômico que intervêm no processo.
A inovação na gestão surge como uma mudança consciente de paradigmas que supõe uma racionalidade, e isto implica certo deslocamento do eixo de atuação o que permite observar e analisar as mudanças nas práticas individuais, grupais e institucionais. Nesse sentido, o caminho para uma sociedade sustentável se fortalece na medida em que se desenvolvam práticas, que pautadas pelo paradigma da complexidade, aportem para os ambientes pedagógicos, uma atitude reflexiva em torno da problemática ambiental, na formação de novas mentalidades, conhecimentos e comportamentos. Isto implica na necessidade de se multiplicarem as práticas. A transformação cultural, necessária para quebrar o hiato existente entre o reconhecimento da crise social e ambiental e a construção real de práticas capazes de estruturar as bases de uma sociedade sustentável, alerta para a importância do fortalecimento de comunidades de prática e da aprendizagem social como processos e espaços/tempos que permitam: 1) a ampliação do número de pessoas no exercício deste conhecimento; 2) a comunicação entre estas pessoas de modo a potencializar interações que tragam avanços substanciais na produção de novos repertórios e práticas de mobilização social para a sustentabilidade, com ênfase nos aspectos associados com a resiliência.
O senhor poderia definir o que seria Governança Global?
O conceito de governança está centrado sobre a noção de poder social que media as relações entre Estado e sociedade civil, como espaço de construção de alianças e cooperação, mas também permeado por conflitos que decorrem das assimetrias sociais e seus impactos no meio ambiente e das formas de resistência, organização e participação dos diversos atores envolvidos. O conceito transcende, portanto, uma abordagem técnico-institucional e se insere no plano das relações de poder e do fortalecimento de práticas de controle social e constituição de públicos participativos.
Assim a governança pode ser entendida a partir de um referencial normativo, usado para descrever o avanço no processo pelo qual instituições formais de governo estabelecem um diálogo sobre o processo político com outros atores da sociedade civil. O conceito refere-se a uma forma de coordenar atores com base na colaboração, consenso e decisões democráticas, em contraponto ao que naturalmente se configura como processos decisórios isolados da participação de setores mais amplos da sociedade. O surgimento de novas formas de governança implica em uma maior disposição para conviver com incertezas na área da formulação de políticas, e que possa garantir a conservação da capacidade do ecossistema em prover serviços ecológicos ao mesmo tempo em que os interesses e objetivos dos atores sociais são atendidos – sem que isso cause um custo ou sobrepeso para a sociedade como um todo.
Obrigado pela atenção e pela gentileza em responder as perguntas.