Em abril, o Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aprovou a nomeação de oito novos Geoparques Globais, ampliando o número de locais que participam da Rede Global de Geoparques para 177, em 46 países. Duas destas novas designações estão no Brasil: a região de Seridó, área de 2.800 km² no semiárido nordestino, e os Caminhos dos Cânions do Sul, no sul do Brasil, que abrange 2.830,8 km².
Criado em 2015, por unanimidade dos Estados-membros da agência, o selo do Geoparque Global da Unesco reconhece os patrimônios geológicos de importância internacional. Os sítios desta rede apresentam diversidade geológica que sustenta a diversidade biológica e cultural de diferentes regiões. Geoparques atendem as comunidades locais, combinando a conservação com o alcance público e o desenvolvimento sustentável.
Com essas oito novas designações, a Rede agora cobre uma superfície mundial de 370.662 km², equivalente ao tamanho da área do Japão.
Geoparques no Brasil
O Geoparque Global Seridó abriga mais de 120 mil habitantes, incluindo comunidades quilombolas, que mantêm viva a memória de seus ancestrais para preservar sua cultura por meio de práticas tradicionais, museus e centros culturais.
De acordo com a Unesco, o local possui 600 milhões de anos da história da Terra e abriga uma das maiores mineralizações de scheelita da América do Sul, um importante minério de tungstênio, além de fluxos de basalto decorrentes da atividade vulcânica durante as Eras Mesozóica e Cenozóica. Essa geodiversidade determina em grande parte a biodiversidade única da região, caracterizada especialmente pela Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro.
Já o Geoparque Global Caminhos dos Cânions do Sul abriga mais de 74 mil habitantes. A região é caracterizada pela Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ricos do planeta em termos de biodiversidade.
Os habitantes pré-colombianos da área costumavam se abrigar em paleotocas (cavidades subterrâneas escavadas por extinta megafauna paleovertebrada como a preguiça gigante) cujos numerosos vestígios ainda são visíveis no geoparque.
Além disso, o local apresenta os cânions mais impressionantes da América do Sul, formados pelos processos geomorfológicos únicos que o continente sofreu durante a dissolução do supercontinente Gondwana há cerca de 180 milhões de anos.
Geoparques globais
Os outros seis integrantes da nova lista da Unesco ficam na Europa. O primeiro é o Salpausselkä, na Finlândia, na parte mais meridional do Lakeland finlandês, cobrindo uma área de 4.506 km². Cerca de 21% do geoparque é coberto por água e mais da metade por florestas.
O Ries, com a maior parte no estado da Baviera, na Alemanha, também completa a lista. No local, os visitantes podem explorar a cratera de impacto de Nördlinger Ries e aprender sobre sua geologia e história seguindo trilhas naturais por conta própria ou em visitas guiadas.
Ao sul do continente, na Grécia Ocidental, o Geoparque Mundial da Cefalônia – Ithaca também foi nomeado, sendo um complexo de ilhas. O local é rico em geossítios de origem cárstica como cavernas, dolinas e riachos subterrâneos, todos espalhados pelas ilhas contando uma história geológica que remonta a mais de 250 milhões de anos.
No leste de Luxemburgo, outro selecionado foi o Geoparque Rural Mëllerdall. Segundo a Unesco, o local possui uma das paisagens de arenito mais espetaculares da Europa Ocidental. O local tem sido uma atração turística desde o final do século 19 e hoje a região pode ser explorada seguindo uma densa rede de trilhas bem-sinalizadas.
A Romênia também possui um geoparque na rede, o Buzău Land. Localizado na área da Curva dos Cárpatos, o território montanhoso cobre 1.036 km² e abriga cerca de 45 mil habitantes. A geodiversidade influenciou uma herança cultural única com lendas locais em que vulcões de lama se tornam dragões e caldeiras de lama são armadilhas feitas por gigantes para pegar gado.
Completa a lista o Platåbergens, no oeste da Suécia. A região montanhosa foi moldada pela erosão durante a última Idade do Gelo, 115 mil anos atrás. Algumas das descobertas históricas mais interessantes do país foram feitas nesta área, onde os museus preservam numerosos vestígios que testemunham o uso da pedra local pelos habitantes ao longo dos milênios: desde túmulos megalíticos até a primeira igreja de pedra conhecida na Suécia, construída pelos vikings cristãos no início do século 11.