Na segunda-feira, 1º de novembro, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, anunciou a expansão da reserva marinha que circunda as Ilhas Galápagos. O anúncio foi feito na Cúpula do Clima, durante a COP26, que acontece em Glasgow, Escócia. A Reserva Marinha de Galápagos, que hoje cobre uma área de 133 mil km² ao redor das Ilhas Galápagos, protegerá outros 60 mil km² após a extensão.
A maior parte dessa expansão se dará na extensão da Cordilheira de Cocos, uma cadeia de montanhas subaquáticas no lado nordeste das Ilhas Galápagos, que forma uma importante rota de migração conhecida como Corredor Cocos-Galápagos. Em parte da nova reserva, todas as atividades de pesca serão proibidas, enquanto em outra porção proibirá apenas a pescaria de espinhel (técnica que usa uma longa linha, conectada a linhas secundárias com anzóis).
“A proposta que trago aqui é resultado de cinco meses de negociações com a indústria pesqueira e outros setores”, disse Lasso em entrevista coletiva por meio de um tradutor. “Fizemos com que eles entendessem a importância desta reserva marinha”.
Lasso afirmou que a reserva não só apoiará e fortalecerá a biodiversidade da região, como também ajudará a combater as mudanças climáticas. E acrescentou que o estabelecimento da reserva seria uma troca da dívida externa do país pela conservação, sem fornecer mais detalhes sobre a proposta.
O presidente ainda não assinou o decreto de expansão da reserva, mas especialistas afirmam que isso acontecerá em breve.
No início deste ano, ativistas apresentaram uma proposta científica para estender a Reserva Marinha de Galápagos em 445.953 km² ‒ mais que o triplo do tamanho atual ‒ ao então presidente Lenín Moreno, mas o governo equatoriano não tomou nenhuma medida naquele momento. Lasso sucedeu Moreno em maio, após vencer o segundo turno da eleição presidencial no mês anterior.
Alex Hearn, ecologista de pesca marinha da Universidad San Francisco de Quito e da ONG MigraMar, além de autor da proposta inicial, disse que o anúncio recente da reserva é um “primeiro passo” para abordar alguns objetivos de conservação, incluindo a proteção de espécies migratórias ameaçadas, como tubarões-martelo-recortados (Sphyrna lewini) e tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea). “O importante, é claro, será garantir que a área de defeso seja cuidadosamente posicionada para que possamos obter o melhor resultado de conservação naquela área”, disse Hearn ao Mongabay, em uma entrevista por telefone.
Ele acrescentou que as espécies migratórias só colheriam os benefícios da reserva recém-expandida de Galápagos se a Costa Rica protegesse a outra metade do corredor Cocos-Galápagos. Isto garantiria que os animais poderiam se mover com segurança entre a Ilha Darwin e as Ilhas Cocos da Costa Rica e além.
Eliecer Cruz, ex-governador de Galápagos e porta-voz da iniciativa cidadã Más Galápagos, grupo que fez intensa campanha pela extensão da Reserva Marinha de Galápagos, também expressou satisfação com a decisão do presidente equatoriano. “Olhando para o futuro, este é um grande passo na direção certa para a proteção das Galápagos, a fim de manter a saúde de nossa espetacular diversidade de vida marinha ‒ e de nossa economia”, disse Cruz em um comunicado. “Nossa reserva marinha tem sido notavelmente produtiva, mas devemos construir ainda mais sobre esse sucesso.”
No dia seguinte à notícia sobre as Galápagos, Equador, Panamá, Colômbia e Costa Rica também anunciaram na COP26 que pretendiam unir forças para criar um grande corredor marinho entre seus quatro países, que ampliará e unirá as áreas marinhas protegidas ao longo do Corredor Marinho do Pacífico Leste Tropical (CMAR). Em uma declaração assinada pelos presidentes das quatro nações, os líderes dizem que essa medida os ajudará a proteger 30% de suas águas marinhas até 2030 ‒ uma meta que está sendo apoiada por um número cada vez maior de países e outras entidades.
Juntas, as reservas marinhas estendidas nas águas territoriais dos quatro países poderiam se estender por mais de 500 mil km².
Luis Suarez, vice-presidente da Conservação Internacional Equador, disse que há uma proposta para proteger a CMAR desde 2004, e o compromisso assumido em 2 de novembro ajudará a solidificar esses planos. “É uma grande conquista – um grande avanço – porque é a primeira vez que os quatro presidentes assinam esta nova declaração”, comemorou Suarez ao Mongabay pelo telefone. “Isso dará um grande impulso a essa iniciativa”.
Max Bello, um especialista em política oceânica internacional da ONG Mission Blue, alerta que ainda haverá muito trabalho a ser feito para garantir que as reservas marinhas sejam administradas e fiscalizadas de maneira adequada. Se for bem administrado, diz, o corredor marinho entre as quatro nações ajudará muito a proteger as espécies migratórias que se movem regularmente pela região. “O tubarão-martelo com o qual você pode mergulhar nas Galápagos pode ser o mesmo tubarão com que você mergulhará mais tarde em Mal Pelo [na Colômbia]”, disse Bello. “Você precisa da conectividade [entre as reservas].”
Um comentário em “COP26: Novas proteções anunciadas para as Ilhas Galápagos e além”
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