Entenda o que é o Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso


*Texto por Gabriel Breves e Pedro da Cunha Menezes

A pegada amarela sobre o fundo preto, característica das trilhas de longo curso do Sistema Brasileiro de Trilhas.


Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Cursoinspirado nos sistemas de trilhas de longo curso estadunidense (National Trails System) e europeu (European long-distance paths), tem como objetivo conectar as diferentes unidades de conservação do país. Uma iniciativa conjunta do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de grupos de voluntários e da sociedade civil organizada – como, por exemplo, o Movimento Trilha Transcarioca e a Associação Trilha Transmantiqueira -, o projeto está inserido no contexto do Programa Nacional de Conectividade de Paisagens (Conecta) instituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) a partir da Portaria nº 75 de 26 de março de 2018.

A princípio, os sistemas de trilhas surgiram com o intuito de proporcionar recreação e geração de renda através da integração dos usuários e visitantes de áreas protegidas e das comunidades locais. Eventualmente, os benefícios ecológicos e ambientais também se tornaram parte da proposição e finalidade de implementação do Sistema, uma vez que a fauna também se utiliza das trilhas. Desta maneira, a conectividade de paisagens por meio de trilhas de longo curso ganhou relevância como estratégia de conservação, haja vista que um dos principais fatores que ameaçam a biodiversidade é a fragmentação dos habitats. A migração da fauna entre áreas protegidas garante a manutenção do fluxo gênico e a variabilidade genética.

O aspecto da geração de renda se mostra na oportunidade que propriedades estabelecidas por onde passarão os corredores terão em dar uso econômico às suas áreas pela oferta de de serviços, como camping e alimentação para os visitantes. Estima-se que a cada 15-20 km de trilha é necessário um ponto de pernoite e alimentação.

O sistema europeu foi projetado para incluir vilas e povoados em seus traçados com o propósito de impulsionar o comércio local, como o estabelecimento de pousadas, albergues, restaurantes e lojas de equipamentos de montanha. É composto por 12 trilhas de longo curso denominadas E-Paths (E1 a E12), onde cada uma é constituída por trechos menores: rotas que fomentam o desenvolvimento regional a partir do turismo ecológico.


Da mesma maneira, o Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso está implementando, inicialmente, 5 grandes corredores ou Trilhas de Longo Curso Nacionais, sendo elas:

  • Corredor Litorâneo, que ligará os municípios Oiapoque e Chuí, localizados no extremo norte e extremo sul do litoral brasileiro, respectivamente.
  • Caminho dos Goyazes, que conectará a cidade de Goiás Velho até o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), passando pelo Distrito Federal.
  • Caminhos do Peabiru, que ligará o Parque Nacional do Iguaçu (PR) ao litoral paranaense.
  • Caminhos Coloniais, seguindo rotas usadas desde o período colonial e imperial, localizadas entre o litoral do Rio de Janeiro e a Chapada dos Veadeiros, onde se conetarão ao Caminho dos Goayzes.
  • Trilha do Velho Chico, da nascente à foz do Rio São Francisco.

Cada grande corredor é composto por trilhas de longo curso regionais nas quais o fim de uma coincide com o início da imediatamente seguinte. A existência dos percursos regionais é relevante pois permite ao praticante caminhar por períodos cujas durações – sete dias, quinze dias ou vinte e oito dias – são compatíveis com o tempo de férias do caminhante.

Entre os percursos implementados totalmente ou parcialmente do Corredor Litorâneo estão a Rota dos Faróis, o Caminho da Araucárias, a Travessia do Tabuleiro, Rota da Baleia Franca, a Transmantiqueira, Trilha Transcarioca (RJ), Rota Darwin, os Caminhos da Serra do Mar, Travessia do Caparaó, Rota do Descobrimento, Rota das Emoções, a Trilha do Utinga e a Trilha do Amapá.

O Caminho de Cora Coralina, Trilha Missão Cruls e a Travessia das Sete Quedas integram o Caminho dos Goyazes. As trilhas regionais do Caminho do Peabiru reproduzem parte do trajeto utilizado pelos índios Guarani entre o Oceano Atlântico e a Cordilheira dos Andes no Pacífico Sul. O trecho localizado no Parque Nacional das Araucárias já está sinalizado.

Já os Caminhos Coloniais incluem em seus domínios a Trilha Transcarioca, parte dos Caminhos da Serra do Mar, além da Trilha Transespinhaço, rota próxima à Belo Horizonte, entre o Parque Nacional da Serra do Cipó e a cidade mineira de Diamantina.

Sinalização do Sistema Brasileiro de Longo Curso

A sinalização padrão utilizada em trilhas de longo curso pelo Sistema Brasileiro, ou na trilha mais longa de cada unidade de conservação federal, se dá a partir do desenho de uma pegada amarela sobre fundo preto em um sentido e uma pegada preta sobre fundo amarelo no sentido inverso. Essa sinalização segue as melhores práticas internacionais e é também utilizada em sistemas viários mais complexos como estradas e rodovias. Cada trilha ou unidade pode customizar o desenho da pegada sem fugir do padrão das cores amarela e preta.

Sua utilização, que está  aberta gratuitamente para aplicação por qualquer pessoa ou órgão, independente da esfera de governo, está disciplinada e bem explicada pelo Manual de Sinalização de Trilhas do ICMBio (faça aqui o download). 

Acompanhe os avanços do Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso nas seguintes páginas do Facebook e websites:

 

Referências

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BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Manual de Sinalização de Trilhas. Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/publicacoes-diversas/manual_de_sinalizacao_de_trilhas_ICMBio_2018.pdf>. Acesso em 06 de jul. de 2018.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 75 de 26 de março de 2018. Dispõe sobre a instituição do Programa Nacional de Conectividade de Paisagens, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente. Diário Oficial União. 28 mar 2018; nº 60; Seção 1; pág. 160.

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