Enquanto cada vez mais rodovias cortam ou limitam unidades de conservação, maior é o problema do atropelamento de animais silvestres. Atento à urgência desse debate, um grupo de pesquisadores publicou neste domingo (26/11) um estudo sobre o impacto da BR-163 nas populações de anta-brasileira (Tapirus terrestris) de duas unidades de conservação vizinhas à estrada: o Parque Nacional do Jamanxim (PA) e a Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo (PA).
A anta-brasileira é considerada vulnerável à extinção no Brasil pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em razão do declínio estimado em mais de 30% nas populações de áreas em que a espécie é considerada abundante. Essa vulnerabilidade é destacada pelos pesquisadores que frisam que no caso particular da anta, mesmo baixos níveis de mortalidade podem levar à extinções locais.
A pesquisa concentrou seus esforços entre os quilômetros 6 e 76 da rodovia BR-163 no estado do Pará, onde a estrada percorre o limite ocidental da reserva biológica. Entre maio e julho de 2016, somado à junho de 2017, foram registradas 16 antas-brasileiras mortas na rodovia, apenas neste trecho de 70 quilômetros. Com apoio do Sistema Urubu, rede que monitora atropelamentos de fauna através de informações enviadas por usuários, outras três antas foram contabilizadas, vítimas de atropelamento em uma porção mais ao norte da BR-163, onde ela corta o Parque Nacional Jamanxim.
O perigo é maior durante a época seca, entre maio e novembro, e em especial a partir de maio, que é quando começa o início da época de colheita de soja e o tráfego de caminhões na rodovia cresce 17,5%.
O artigo destaca que o potencial perigo representado pela estrada aumentou na última década com os investimentos do governo brasileiro para expandir e pavimentar a rodovia. Essas melhorias permitem que os carros alcancem velocidades maiores e também significa que mais carros irão utilizar a via. “Ao mesmo tempo, as medidas necessárias para diminuir os impactos ambientais causados pela BR-163 não foram implementadas”, ressalta a pesquisa.
Como sugestão para reduzir o número de atropelamentos, os pesquisadores sugerem tanto a criação de passarelas aéreas ou subterrâneas para garantir a passagem da fauna, quanto o uso de cercas em trechos críticos para impedir que os animais alcancem a rodovia. Além disso, também é necessário investir em mudanças comportamentais com relação aos motoristas com a maior fiscalização dos limites de velocidade, a instalação de radares e de placas que sinalizem a velocidade máxima permitida. Uma campanha de sensibilização para conscientizar os motoristas também deve ser considerada. A colisão de um veículos menores com uma anta, que é um animal de grande porte, representa não apenas a morte do animal, mas também a potencial morte do motorista e passageiros.
O artigo foi escrito pelos pesquisadores: Marco A. de Freitas, Rodrigo C. Printes, Eric K. Motoyama, Assor E. Fucks e Diogo Veríssimo. E foi publicado na revista Journal of Threatened Taxa (clique aqui para acessar o artigo na íntegra, no original em inglês)