Um estudo inédito realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) prova que as unidades de conservação são valiosas não apenas do ponto de vista ambiental, mas também econômico. Através do turismo, cada 1 real investido no ICMBio para gestão das áreas protegidas produziu 7 reais em benefícios econômicos para o Brasil. Os dados estão na publicação Contribuições do Turismo em Unidades de Conservação Federais para a Economia Brasileira – efeitos dos gastos dos visitantes em 2015, divulgado no último sábado (28/10) durante o 13º Fórum Interamericano de Turismo Sustentável (FITS), em São Paulo.
De acordo com o estudo, em 2015, as unidades federais receberam mais de 8 milhões de visitas e os visitantes gastaram R$ 1,1 bilhão nos municípios de acesso às unidades de conservação. A contribuição total desses gastos para a economia nacional foi de 43 mil empregos, R$ 1 bilhão em renda, R$ 1,5 bilhão em valor agregado e R$ 4,1 milhões em vendas. O setor de hospedagem foi quem registrou a maior contribuição direta, com R$ 267 milhões em vendas, seguido pelo setor de alimentação com R$ 241 milhões.
Os números contrariam a lógica de que o sistema de unidades de conservação é deficitário, com um orçamento maior do que o seu retorno financeiro. O pioneirismo do estudo está em contabilizar não apenas os gastos diretamente relacionados com a unidade, como a cobrança de ingressos, mas sim toda a cadeia produtiva impactada pelo turismo nas áreas protegidas.
Em um momento em que o governo ameaça cortes de até 50% nas verbas destinadas às unidades de conservação no orçamento de 2018, esse pode ser um argumento importante para provar que esse é um investimento que dá retorno aos cofres públicos e à economia nacional. Conforme descrito na publicação “o objetivo é informar tomadores de decisão, administradores, comunidades locais e o público em geral que as UCs não são importantes apenas para a conservação, mas também como vetores de desenvolvimento sustentável gerando emprego e renda”.
Os destaques são o Parque Nacional da Tijuca (RJ) e o Parque Nacional do Iguaçu (PR), as duas unidades mais visitadas do país. Juntos, os parques somaram um quarto (25%) de toda visitação em 2015 e foram responsáveis pela injeção de mais de 700 milhões através dos gastos dos visitantes, além da geração de quase 30 mil empregos.
Em 2017, mais de 5 milhões de pessoas já visitaram uma ou mais das 61 unidades federais que controlam a entrada. Há muitas unidades que, apesar de estarem abertas à visitação, não possuem mecanismos de controle para quantificar essa entrada. O Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA), por exemplo, não possui dados de visitação.
“Os benefícios econômicos das UCs são muito maiores do que os apontados no estudo porque há unidades que ainda não contam o número de visitação e além disso, os benefícios contabilizados foram apenas os locais, os gastos do visitante no município de destino. Não contabiliza os gastos com bilhetes aéreos, equipamentos que ele compra para ir ao destino, entre outros. Com certeza o impacto é muito maior”, pontua o assessor da Coordenação Geral de Uso Público e Negócios (CGEUP) do ICMBio, Thiago Beraldo, um dos responsáveis pelo estudo.
O relatório foi feito em parceria da CGEUP com a Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e da Universidade de São Paulo. Beraldo comenta ainda que o objetivo é que este levantamento passe a ser feito anualmente, junto com os dados da visitação nas UCs federais. O coordenador de Planejamento, Estruturação da Visitação e do Ecoturismo do ICMBio, Paulo Faria, explica que “Entender a dimensão do turismo é a base para construção de políticas públicas voltadas ao interesse público e reforçar a importância do turismo para a economia das comunidades e municípios nos arredores”.
O estudo é baseado na metodologia Money Generation Model (MGM2) desenvolvida pelo Serviço de Parques Americano e modificada para se adequar à questões específicas do Brasil. A publicação pode ser acessada na íntegra no link.