Reserva Biológica Estadual do Aguaí

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Reserva Biológica Estadual do Aguaí
Esfera Administrativa: Estadual
Estado: Santa Catarina
Município: Treviso, Siderópolis, Nova Veneza, Morro Grande e, confrontando, a oeste, o limite municipal de Bom Jardim da Serra.
Categoria: Reserva Biológica
Bioma: Mata Atlântica
Área: 7.672 hectares
Diploma legal de criação: Decreto Estadual nº 19.635 de 01 de Julho de 1983.
Coordenação regional / Vinculação: A Unidade de Conservação é administrada pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina - FATMA.
Contatos: Sede "Reserva Biológica Estadual do Aguaí"

Rua 19 de Dezembro, 251 88.860-000 - Siderópolis - SC Email: casagrande@fatma.sc.gov.br Telefone: (48) 8843 - 4813

Localização

Está localizada nos municípios de Treviso, Siderópolis, Nova Veneza, Morro Grande e, confrontando, a oeste, o limite municipal de Bom Jardim da Serra.

Como chegar

O acesso à região da reserva é feito a partir dos centros urbanos dos municípios do entorno e se dá por uma rede de estradas municipais e rodovias estaduais. As rodovias estaduais que servem a região são SC-447, que interliga os municípios do sopé da serra, e a SC 438, conhecida como Estrada da Serra do Rio do Rastro, que, por sua vez, liga esses municípios à parte alta da reserva, nos campos do planalto, município de Bom Jardim da Serra.

Ingressos

Onde ficar

Objetivos específicos da unidade

Preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.

Histórico

A criação da Reserva Biológica do Aguaí justificou-se pelo seu relevo acidentado, a presença de diversos canyons, pela riqueza de ecossistemas e pela grande variedade de espécies de plantas e animais, que fazem da região um cenário valioso para a conservação da biodiversidade. Aguaí (Chrysophyllum viride), que dá nome a Unidade de Conservação, é uma árvore que está presente na Floresta Atlântica e, na reserva, domina principalmente o extrato arbóreo das encostas íngremes da Serra Geral.

Atrações

Aspectos naturais

Na Reserva Biológica Estadual do Aguaí existem inúmeras nascentes, contribuindo para a formação da bacia carbonífera. No alto da Serra Geral as nascentes são protegidas por uma densa formação vegetal da Floresta Atlântica e Floresta Nebular. A reserva do Aguaí é extremamente importante para a manutenção dos recursos hídricos da região sul do Estado de Santa Catarina, principalmente para as cidades abrangidas pela Bacia Carbonífera, uma vez que dois terços dos cursos d’agua desta região estão seriamente comprometidos devido a poluição da exploração do carvão mineral. Alguns rios que nascem na reserva do Aguaí são ainda formadores da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, na qual está localizada a barragem do Rio São Bento.

Relevo e clima

A beleza natural da reserva é caracterizada pela brusca variação topográfica, na qual a paisagem dos chamados Campos de Cima da Serra (Planalto dos Campos Gerais), com altitudes de mais de 1.000 metros, transforma-se subitamente na planície costeira. Essa transição brusca ocorre através de gigantescos penhascos e cânions, com paredões de rocha de centenas de metros de altura. Essa característica de relevo acentuado, com níveis de declividade extremamente elevados, é condicionante dos processos geomorfológicos de evolução da paisagem.

O topo da reserva do Aguaí é um dos lugares mais frios do sul do país, chegando a registrar mínimas de -7°C no mês de julho. No inverno, a temperatura cai bruscamente. O clima extremamente frio faz com que as elevações e campos fiquem cobertos de neve, os riachos amanheçam congelados e as plantações, cobertas por gelo. Nos meses de verão, quando nuvens vindas do litoral conseguem romper os penhascos, surge a viração. A viração é uma neblina espessa, quase palpável, que alcança a borda do planalto, mas não avança por causa da diferença de temperaturas. Por sua grande altitude e posição próxima ao oceano, as encostas da Serra Geral exercem grande influência na distribuição regional das chuvas, agindo como uma barreira que provoca a precipitação a partir das nuvens provenientes do oceano. Em geral, a pluviosidade nas proximidades da encosta do planalto, onde se situa grande parte da reserva, são maiores que na planície litorânea. O período mais chuvoso e de maior intensidade ocorre de dezembro a março. Por outro lado, os meses de maio a setembro são os caracterizados pela menor intensidade e menor frequência das chuvas.

Fauna e flora

A reserva do Aguaí apresenta uma heterogeneidade ambiental, composta por vales, serras e cachoeiras, que abriga uma fauna diversificada. Na reserva, ocorrem duas espécies de primatas: o macaco-prego (Sapajus nigritus,) uma espécie mais comum na região tropical, que chama a atenção pelo seu comportamento curioso e ativo, e o Bugio (Alouatta clamitans), de hábitos mais esquivos, particularmente, conhecido pelo elevado volume de suas vocalizações. Entre os ungulados, estão presentes espécies de cervos, como o veado-bororó (Mazama nana) e os catetos (Pecari tajacu), conhecidos como porcos silvestres, que costumam andar em grupos de até 15 animais. Outros mamíferos que marcam presença na Unidade de Conservação são os marsupiais. Entre eles estão o gambá (Didelphis albiventris) e a cuíca-d’água (Chironectes minimus), o único marsupial adaptado à vida aquática. Aparecem também os roedores como a cutia (Dasyprocta azarae), a paca (Cuniculus paca) e a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). Entre os carnívoros onívoros, o graxaim, ou raposa (Cerdocyon thous), é a espécie de canídeo mais facilmente visualizada na mata. Outra espécie desse grupo presente na reserva são os quatis (Nasua nasua), que percorrem, em bandos ou sozinhos, diariamente, seu território, caminhando ou escalando árvores, à procura de alimentos. Das espécies essencialmente carnívoras, adaptadas para o hábito de caçar, estão os felinos silvestres. Na reserva foram registradas cinco espécies, o puma (Puma concolor), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-maracajá (Leopardus wiedii), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) e o jaguarundi (Puma yagouaroundi).

Quem visitar a reserva poderá ver e ouvir aves admiráveis como tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus), gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), tangarazinho (Ilicura militaris), araponga (Procnias nudicollis), macuco (Tinamus solitarius), pichochó (Sporophila frontalis), pimentão (Saltator fuliginosus), gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), Urubu-rei (Sarcoramphus papa) e muitas outras espécies. Caso de endemismo também caracteriza a avifauna altimontana da reserva, com a ocorrência do pedreiro (Cinclodes pabsti), uma espécie que recebeu essa denominação popular por estar sempre perto de rochas expostas em meio aos campos.

A diversidade de ambientes alagados e úmidos, graças à abundância de recursos hídricos, faz com que a reserva sustente várias espécies de répteis e anfíbios. Entre os répteis é comum encontrar o teiú (Salvator meriane), o maior lagarto das Américas. Em ambientes pedregosos é possível observar o sinco-dourado (Mabuya dorsivitatta) e, escalando as árvores, a iguaninha-verde (Enyalius iheringii). Impressionam também a presença das serpentes, fascinantes predadoras. Algumas delas são peçonhentas, ou seja, capazes de inocular veneno através de suas presas, como a jararaca (Bothrops jararaca) e a coral-verdadeira (Micrurus corallinus). Outras espécies não peçonhentas comumente encontradas na reserva são à cobra cipó (Chironius bicarinatus), cobra-d'água (Liophis miliaris), caninana (Spilotes pullatus), dormideira (Sibynomorphus neuwiedi) e jararaca-falsa (Xenodon neuwiedii).

Os anfíbios se destacam com a presença da rã-dos-córregos (Hylodes meridionalis), considerada uma espécie endêmica, ou seja, espécie que só ocorre nas encostas da Serra Geral. Outro importante grupo de espécies são as que apresentam características indicadoras de qualidade ambiental, também conhecidas como bioindicadoras. Ocorre dentro da reserva, a rã-da-mata (Ischnochnema guentheri), a perereca-flautinha (Aplastodiscus cochranae) e a perereca-verde (Hypsiboas marginatus), que vivem dentro da floresta próximas a córregos de água limpa.

Em relação aos peixes, a reserva do Aguaí se caracteriza por um acentuado endemismo. Uma espécie da bacia do rio Araranguá é o pequeno cascudinho (Epactionotus gracilis), cuja localidade é o Alto Rio Jordão. Já no trecho da reserva que é drenado pela bacia do rio Pelotas, destaca-se a ocorrência de Jenynsia eirmostigma, endêmica do curso superior da bacia hidrográfica do rio Uruguai no Planalto da Serra Geral, não ocorrendo na porção baixa da bacia. Outras espécies encontradas são o lambari-azul (Cyanocharax itaimbe), lambari-listrado (Hollandichthys taramandahy) e lambarizinho (Mimagoniates rheocharis), espécies consideradas bioindicadoras de qualidade ambiental, canivete (Characidium pterostictum), cará (Geophagus brasiliensis), barrigudinho (Jenynsia unitaenia), mussum (Gymnotus pantherinus), candiru (Ituglanis sp.), coridora (Scleromystax salmacis) e jundiá (Heptapterus mustelinus).

Na reserva do Aguaí, as diferenças de altitude, que vão desde a parte baixa da serra, com 200 metros, até o planalto serrano, com 1470 metros, permitem a formação de hábitats singulares, com variados tipos de vegetação. Nas encostas íngremes da Serra Geral, predomina a Floresta Ombrófila Densa que, de acordo IBGE (2012), está distribuída em diferentes faixas altimétricas (Submontana, entre 200 m e 400 m, Montana, entre 400 m e 1.000 m, e Altomontana, entre 1.000 m e 1.200 m). Essa formação florística se apresenta densa e exuberante, com árvores de grande porte. Nos troncos dessas árvores realça a beleza de trepadeiras e epífitos, com destaque às bromélias e orquídeas, que criam um ambiente típico de floresta tropical. Prevalece nessa formação florestal a ocorrência do palmiteiro (Euterpe edulis), figueirão (Ficus enormis), corticeira-da-serra (Erythrina falcata), ingá-feijão (Inga marginata), quaresmeira (Tibouchina pilosa), capororoca (Myrsine coriacea), embaúba (Cecropia glaziovii), licurana (Hieronyma alchorneoides), araçazeiro (Psidium cattleianum) e cedro (Cedrela fissilis). Entre as espécies vegetais consideradas ameaçadas de extinção destaca-se à canela-preta (Ocotea catharinensis), o sassafrás (Ocotea odorifera) e o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana).

Nas porções mais elevadas, relativas aos platôs serranos, impera a Floresta Ombrófila Mista e da Estepe Gramíneo-Lenhosa (sensu IBGE, 2004), conhecida também como “Matas com Araucárias e Campos”. Compreendida aproximadamente entre as cotas altimétricas 1.200 e 1.400 m, abrange a transição da Serra Geral para o Planalto dos Campos Gerais, onde o relevo planáltico, suavemente ondulado, formado por coxilhas e baixadas úmidas e associado a cursos d’água de pequeno porte, resulta na formação de solos rasos e rochosos, com elevada pedregosidade. Na Floresta Ombrófila Mista, destacam-se a presença do capim-caninha (Andropogon lateralis); de espécies raras e/ou endêmicas como açucena-do-campo (Hippeastrum breviflorum), vassoura-anã (Baccharis nummularia), capipoatinga (Eriocaulon gomphrenoides), urtigão-da-serra (Gunnera manicata), casca-d’anta (Drimys angustifolia), pixirica (Miconia ramboi), cará-mimoso (Chusquea mimosa); de turfeiras e espécies arbóreas como cambuizinho (Myrceugenia euosma); e de sub-bosque com espécies herbáceas e arbustivas típicas. Nesse ecossistema, as espécies vegetais ameaçadas de extinção compreendem o pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) e o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana).

Nos paredões rochosos extremamente íngremes, situados aproximadamente acima dos 1.000 m sobre o nível do mar, predominam os chamados Refúgios Vegetacionais Altomontanos (sensu IBGE, 2004) ou “Vegetação Rupícola” (sensu RAMBO, 1956) por estarem associados intrinsecamente a substratos rochosos, especialmente areníticos e basálticos. A vegetação rupícola se caracteriza por ser formação vegetal sem uma zonação definida e com restrita área de ocorrência, mas que guarda inúmeras particularidades florísticas quanto a endemismos, raridades e origens fitogeográficas.

Problemas e ameaças

As ameaças sobre a reserva do Aguaí vêm de longa data, desde que o homem, ao ocupar essa região, iniciou a exploração dos recursos naturais e promoveu a descaracterização dos ambientes.

Ao longo da história, muitas mudanças foram percebidas na natureza. A criação do gado foi uma das atividades rurais mais importantes na região. No entanto, em muitos lugares, as práticas adotadas de manejo ainda contribuem para o desaparecimento de espécies vegetais e animais do campo. Na reserva, o impacto mais grave resulta das queimadas periódicas e dos pastejos que ultrapassa a capacidade de suporte dos campos nativos. A utilização de queimadas que busca o rebrote da vegetação utilizada como alimento para o gado interfere drasticamente na riqueza das espécies vegetais e, consequentemente, modifica a paisagem.

Espécies invasoras também avançam sobre a reserva, plantações de pinus (Pinus elliotti), lírio-do-brejo (Hedychium Coronarium) e uva-do-japão (Hovenia dulcis) constituem uma das principais mudanças na paisagem. Nos Campos de Cima da Serra, a acelerada expansão das culturas arbóreas do gênero Pinus tem gerado, sobre a biota, sérias consequências que vão desde a exclusão da fauna, à destruição da cobertura vegetal original, da perda dos nutrientes do solo e à redução dos recursos hídricos.

Na porção leste da reserva, as principais ameaças que podem causar degradação dos recursos naturais envolvem a expansão da rizicultura nas várzeas (presentes principalmente em Nova Veneza e Morro Grande) e a expansão de áreas de lavoura nas encostas (especialmente o plantio de banana em Siderópolis), juntamente com a exploração carbonífera. O processo de extração de carvão a céu aberto e sem cuidados ambientais gerou acúmulo de resíduos em toda a região, resultando em uma alta taxa de poluição e comprometimento de cursos d’água nos municípios de Treviso e Siderópolis.

Outro impacto que ainda afeta muito a diversidade de vida na reserva é a atividade ilegal de caça, que tem exercido papel decisivo no desaparecimento de algumas espécies. O exemplo desse retrato é a onça-pintada (Panthera onca), que até a década de 50 podia ser avistada na região e, hoje, está extinta localmente.

Na reserva, a forte pressão da caça vem contribuindo para o declínio das populações de muitos animais nativos. Espécies como paca (Cuniculus paca), cateto (Pecari tajacu), cutia (Dasyprocta azarae), quati (Nasua nasua), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), veados (Mazama spp.) e tatus (Dasypus novemcinctus) são frequentemente caçadas para o consumo da carne, enquanto leões-baio (Puma concolor), capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), ratão-do-banhado (Myocastor coypus) e macaco-prego (Sapajus nigritus) são abatidos por fazendeiros porque ameaçam criações de animais ou plantações.

A extinção de uma espécie em uma região altera as relações entre as espécies sobreviventes, gerando de¬sequilíbrios ecológicos que afetam a qualidade am¬biental e muitas vezes têm consequências indesejá¬veis também para as populações humanas, dificul¬tando ou inviabilizando, por exemplo, o controle de pragas ou reduzindo a produtividade agrícola.

Além disso, a reserva sofre também com os efeitos da extração ilegal de palmito (Euterpe edulis), espécie ameaçada, que é chave para a sobrevivência da fauna e da própria floresta, uma vez que possui diferentes níveis de interação com os animais, existindo aqueles que são dependentes desta palmeira.

Fontes

Luiz, Micheli Ribeiro Reserva Biológica Estadual do Aguaí : Floresta Atlântica – Santa Catarina / Textos Micheli Ribeiro Luiz e José Carlos dos Santos Júnior; fotos José Carlos dos Santos Júnior. – Criciúma : Instituto Felinos do Aguaí, 2015. 100 p.: color.

http://www.fatma.sc.gov.br/conteudo/reserva-biologica-estadual-do-aguai